Pelé embolsou neste ano 10 milhões de dólares dessas marcas. Além disso, tem o direito exclusivo de venda de pacotes turísticos para a Copa do Mundo em toda a América do Sul e, no ano que vem, vai entrar no mercado infanto-juvenil com o lançamento de um jogo eletrônico pela empresa americana Acollade. Pelé comprou recentemente os direitos de transmissão de jogos amistosos internacionais do Flamengo. Ah, claro, é dono de uma imagem que vale milhões. Um levantamento da empresa americana Alan Taylor Communications mostrou que neste ano Pelé valeu 200 milhões de dólares em "mídia indireta". Traduzindo: a figura de Pelé esteve estampada em jornais, revistas e televisão em tal extensão que se a cobertura fosse paga custaria duas centenas de milhões de dólares. "Magic Johnson pegou Aids, Madonna brigou com a Igreja, Michael Jackson está metido em escândalos sexuais e Michael Jordan abandonou as quadras. De nome sólido e realmente mundial mesmo sobrou o Pelé", diz o advogado Hélio Viana, 35 anos, vice-presidente da Pelé Sports & Marketing, a empresa que Pelé, ele e mais dois sócios, o publicitário paulista Celso Grellet e o professor de educação física Roberto Seabra, fundaram há sete anos.
Com tudo isso, a relação do Brasil com Pelé é menos amigável do que seria de esperar. Deveria ser um caso de rendição absoluta. O que existe é uma admiração com certa reserva. Muitos o chamam de rei. Alguns, na torcida oposta, acham que ele pode até ser rei no campo de futebol, mas na vida pessoal é lamentável. Numa declaração de l990, o compositor Tom Jobim, outro brasileiro reconhecido no exterior, tentou uma interpretação para o fenômeno. Segundo Jobim, o brasileiro prefere o fracasso ao sucesso. Sua observação: "O Pelé é uma unanimidade mundial, menos no Brasil. Aqui, ele não é bom. O pessoal acha que nós só podemos amar o Garrincha, não podemos amar o Pelé". É verdade que Edson Arantes do Nascimento contribuiu um pouco para a situação. Deixou seu nome ser pregado na bandeira do Brasil Grande dos sonhos militares depois da conquista do tri, no México, em l970. Sempre que perguntado sobre racismo, balançou a cabeça dizendo que, no seu caso pelo menos, isso não existia. Fala-se que ele só gosta de loiras. A verdade é que nessa área ele não discrimina. Namorou as mais belas morenas do país, a modelo Marina Montini e a miss Brasil Daise Nunes. Disse em pleno jejum de urna, na ditadura, que brasileiro não sabia votar. E assim por diante.
NA CANELA - Mas é verdade também que as pessoas inamistosas em relação a Pelé, as que o vêem com reservas, são ressentidas ingênuas. Pelé destacou-se como atleta, só isso. Foi um gênio, um deus dos gramados, um artista em seu palco, um poeta da bola. Dele muitos exigem, no entanto, que se porte como um Martin Luther King em questões de racismo ou como uma Luiza Erundina em matéria de política. É essa a ingenuidade. Há quase vinte anos, Edson Arantes do Nascimento se sente obrigado em cada conversa mais séria a explicar por que disse que o brasileiro não sabe votar. Bem, Pelé, e hoje em dia o povo já sabe votar? "Não. O povo ainda mata a bola na canela quando vai às urnas", dizia Edson Arantes dias atrás. "Veja a onda de corrupção no Congresso. Essa gente foi posta lá por eleitores que se deixaram enganar na hora do voto." A receita de democracia de Pelé é a mesma que aplicou no futebol. "Vamos continuar treinando e votar, votar, votar, até acertar no gol."
Quanto à acusação de que demonstra insensibilidade com a discriminação racial - ele, que consegue conquistar beldades loiras como Xuxa -, sua linha de defesa é tão boa quanto o ataque da seleção de l958. Apela para a opinião de um líder negro, não um líder negro qualquer, mas um Prêmio Nobel do ramo, o bispo sul-africano Desmond Tutu. "Ele apertou minha mão e disse que fiz muito em favor da raça negra", diz Pelé. "Por que é que eu vou me preocupar com as críticas de outras pessoas menos qualificadas que o bispo Tutu, meu amigo?" É, ele tem razão.
CPI - Os fanáticos por futebol acham que Pelé se saiu pessimamente como comentarista esportivo na TV. Querem um Armando Nogueira de plantão no vídeo. Quiseram uma Agatha Christie quando Pelé escreveu seu único romance, um policial intitulado Assassinato na Copa do Mundo. O livro é horrível, mas faz sucesso até no Japão. Não é possível, não é sensato exigir que Pelé seja gênio fora do campo. Ele teve formação escolar rudimentar, vem de um meio social modesto, freqüentou o círculo mentalmente raso dos gramados. às vezes, em conversas descontraídas, comete erros engraçados. Pode trocar Bósnia por "Bórgia". Mas vai em frente impávido, com aquele sorriso beato, o topete empinado e a "imodéstia absoluta" que Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro, descobriu nele já em 1958, quando foi chamado de "rei" pela primeira vez numa crônica. A coroação é, portanto, de autoria de Nelson Rodrigues.
Bem, está aí agora o Pelé 1993, fazendo denúncias a respeito de corrupção na Confederação Brasilei
Answers & Comments
Verified answer
Pelé embolsou neste ano 10 milhões de dólares dessas marcas. Além disso, tem o direito exclusivo de venda de pacotes turísticos para a Copa do Mundo em toda a América do Sul e, no ano que vem, vai entrar no mercado infanto-juvenil com o lançamento de um jogo eletrônico pela empresa americana Acollade. Pelé comprou recentemente os direitos de transmissão de jogos amistosos internacionais do Flamengo. Ah, claro, é dono de uma imagem que vale milhões. Um levantamento da empresa americana Alan Taylor Communications mostrou que neste ano Pelé valeu 200 milhões de dólares em "mídia indireta". Traduzindo: a figura de Pelé esteve estampada em jornais, revistas e televisão em tal extensão que se a cobertura fosse paga custaria duas centenas de milhões de dólares. "Magic Johnson pegou Aids, Madonna brigou com a Igreja, Michael Jackson está metido em escândalos sexuais e Michael Jordan abandonou as quadras. De nome sólido e realmente mundial mesmo sobrou o Pelé", diz o advogado Hélio Viana, 35 anos, vice-presidente da Pelé Sports & Marketing, a empresa que Pelé, ele e mais dois sócios, o publicitário paulista Celso Grellet e o professor de educação física Roberto Seabra, fundaram há sete anos.
Com tudo isso, a relação do Brasil com Pelé é menos amigável do que seria de esperar. Deveria ser um caso de rendição absoluta. O que existe é uma admiração com certa reserva. Muitos o chamam de rei. Alguns, na torcida oposta, acham que ele pode até ser rei no campo de futebol, mas na vida pessoal é lamentável. Numa declaração de l990, o compositor Tom Jobim, outro brasileiro reconhecido no exterior, tentou uma interpretação para o fenômeno. Segundo Jobim, o brasileiro prefere o fracasso ao sucesso. Sua observação: "O Pelé é uma unanimidade mundial, menos no Brasil. Aqui, ele não é bom. O pessoal acha que nós só podemos amar o Garrincha, não podemos amar o Pelé". É verdade que Edson Arantes do Nascimento contribuiu um pouco para a situação. Deixou seu nome ser pregado na bandeira do Brasil Grande dos sonhos militares depois da conquista do tri, no México, em l970. Sempre que perguntado sobre racismo, balançou a cabeça dizendo que, no seu caso pelo menos, isso não existia. Fala-se que ele só gosta de loiras. A verdade é que nessa área ele não discrimina. Namorou as mais belas morenas do país, a modelo Marina Montini e a miss Brasil Daise Nunes. Disse em pleno jejum de urna, na ditadura, que brasileiro não sabia votar. E assim por diante.
NA CANELA - Mas é verdade também que as pessoas inamistosas em relação a Pelé, as que o vêem com reservas, são ressentidas ingênuas. Pelé destacou-se como atleta, só isso. Foi um gênio, um deus dos gramados, um artista em seu palco, um poeta da bola. Dele muitos exigem, no entanto, que se porte como um Martin Luther King em questões de racismo ou como uma Luiza Erundina em matéria de política. É essa a ingenuidade. Há quase vinte anos, Edson Arantes do Nascimento se sente obrigado em cada conversa mais séria a explicar por que disse que o brasileiro não sabe votar. Bem, Pelé, e hoje em dia o povo já sabe votar? "Não. O povo ainda mata a bola na canela quando vai às urnas", dizia Edson Arantes dias atrás. "Veja a onda de corrupção no Congresso. Essa gente foi posta lá por eleitores que se deixaram enganar na hora do voto." A receita de democracia de Pelé é a mesma que aplicou no futebol. "Vamos continuar treinando e votar, votar, votar, até acertar no gol."
Quanto à acusação de que demonstra insensibilidade com a discriminação racial - ele, que consegue conquistar beldades loiras como Xuxa -, sua linha de defesa é tão boa quanto o ataque da seleção de l958. Apela para a opinião de um líder negro, não um líder negro qualquer, mas um Prêmio Nobel do ramo, o bispo sul-africano Desmond Tutu. "Ele apertou minha mão e disse que fiz muito em favor da raça negra", diz Pelé. "Por que é que eu vou me preocupar com as críticas de outras pessoas menos qualificadas que o bispo Tutu, meu amigo?" É, ele tem razão.
CPI - Os fanáticos por futebol acham que Pelé se saiu pessimamente como comentarista esportivo na TV. Querem um Armando Nogueira de plantão no vídeo. Quiseram uma Agatha Christie quando Pelé escreveu seu único romance, um policial intitulado Assassinato na Copa do Mundo. O livro é horrível, mas faz sucesso até no Japão. Não é possível, não é sensato exigir que Pelé seja gênio fora do campo. Ele teve formação escolar rudimentar, vem de um meio social modesto, freqüentou o círculo mentalmente raso dos gramados. às vezes, em conversas descontraídas, comete erros engraçados. Pode trocar Bósnia por "Bórgia". Mas vai em frente impávido, com aquele sorriso beato, o topete empinado e a "imodéstia absoluta" que Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro, descobriu nele já em 1958, quando foi chamado de "rei" pela primeira vez numa crônica. A coroação é, portanto, de autoria de Nelson Rodrigues.
Bem, está aí agora o Pelé 1993, fazendo denúncias a respeito de corrupção na Confederação Brasilei
A fortuna estimada de Pelé é 1bilhão.
R$ 50 milhões