“Passeávamos (eu e minha mãe)(…)pois eu queria mostrar-lhe algo na vitrina da livraria(…).Então veio ao nosso encontro um grupo de oficiais franceses em seus uniformes vistoso.Alguns deles tinham dificuldade para caminhar,os outro adaptavam-se aos pasos daqueles;paramos para deixá-los passar vagarosamente.’Foram gravemente feridos’,disse minha mãe,’estão na Suíça para se restabelecerem.Foram trocados por alemãs’.E já vinha do outro lado um grupo de alemãs,também entre eles alguns usando muletas,e os outros retardando o passo por causa deles.Lembro-me ainda,como o medo me peralisou.O que acontecerá agora?Eles se lançarão uns contra os outros?Em nossa perplexidade não nos desviamos a tempo,e de repente estávamos anvolvidas pelos dois grupos que queriam passar.Estávamos sobre as arcadas e havia espaço suficiente mas vimos seus rostos bem de perto,ao darem passagem uns para os outros.Nenhum rosto estava defigurado pelo ódio ou pela raiva,como eu temia.Eles se olharam calma e amistosamente,como se nada estivesse acontecendo.Alguns se saudaram.Eles andavam muito mais devagar que as outras pessoas,o que me pareceu uma eternidade.Um dos franceses ainda se virou,agitou sua muleta no ar e gritou para os alemãs,que já haviam passado:’Salut!’ .Um dos alemãs,que o havia ouvido,imitou-o também ele abanando uma muleta,e retribuiu a sudação em françês: ‘Salut’!.Alguém poderá pensarao ler este relato,que as muletas foram sacudidas ameaçadoramente,mas de forma alguma foi este o caso;eles,como saudação,mostraram um ao outro o que lhes havia restado em comum:muletas.
Minha mãe havia subido na calçada e,parada diante da vitirna,me dava as costas.Vi que ela tremia;aproximando-me dela,olhei-a de esguelha;ela estava chorando.Figimos que olhávamos a vitrina;eu não disse uma palavra.Quando ela se controlou,voltamos para casa,em silêncio.Nunca falamos daquele encontro.
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Você poderia publicar o texto, não consigo acha-lo
Uma Troca de Prisioneiros
“Passeávamos (eu e minha mãe)(…)pois eu queria mostrar-lhe algo na vitrina da livraria(…).Então veio ao nosso encontro um grupo de oficiais franceses em seus uniformes vistoso.Alguns deles tinham dificuldade para caminhar,os outro adaptavam-se aos pasos daqueles;paramos para deixá-los passar vagarosamente.’Foram gravemente feridos’,disse minha mãe,’estão na Suíça para se restabelecerem.Foram trocados por alemãs’.E já vinha do outro lado um grupo de alemãs,também entre eles alguns usando muletas,e os outros retardando o passo por causa deles.Lembro-me ainda,como o medo me peralisou.O que acontecerá agora?Eles se lançarão uns contra os outros?Em nossa perplexidade não nos desviamos a tempo,e de repente estávamos anvolvidas pelos dois grupos que queriam passar.Estávamos sobre as arcadas e havia espaço suficiente mas vimos seus rostos bem de perto,ao darem passagem uns para os outros.Nenhum rosto estava defigurado pelo ódio ou pela raiva,como eu temia.Eles se olharam calma e amistosamente,como se nada estivesse acontecendo.Alguns se saudaram.Eles andavam muito mais devagar que as outras pessoas,o que me pareceu uma eternidade.Um dos franceses ainda se virou,agitou sua muleta no ar e gritou para os alemãs,que já haviam passado:’Salut!’ .Um dos alemãs,que o havia ouvido,imitou-o também ele abanando uma muleta,e retribuiu a sudação em françês: ‘Salut’!.Alguém poderá pensarao ler este relato,que as muletas foram sacudidas ameaçadoramente,mas de forma alguma foi este o caso;eles,como saudação,mostraram um ao outro o que lhes havia restado em comum:muletas.
Minha mãe havia subido na calçada e,parada diante da vitirna,me dava as costas.Vi que ela tremia;aproximando-me dela,olhei-a de esguelha;ela estava chorando.Figimos que olhávamos a vitrina;eu não disse uma palavra.Quando ela se controlou,voltamos para casa,em silêncio.Nunca falamos daquele encontro.
Elias Canetti