Justiça Poética é quando, em uma história, o antagonista (as vezes protatgonista) faz, inicialmente, algo que por sua natureza é rejeitável pela sociedade. Acontece o desenrolar da história e por fim, a JUSTIÇA POÉTICA vem como a "vingança" daquele prejudicado, onde o que praticou o ato inicialmente tem contra si o ato praticado no fim...
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Ex: Na Grécia clássica, existia uma história sobre os riscos de ser-se mercador de escravos. Uma criança que fora castrada e vendida para a corte Persa tornou-se um poderoso funcionário. Ora um dia, foi-lhe apresentado um homem que cometera um delito contra a lei: era nem mais nem menos do que o homem que o comprara, castrara e vendera. Como castigo, o eunuco mandou-o castrar assim como a todos os seus filhos. A profissão de mercador de escravos era legal, mas de facto não era muito bem vista (e ainda pior castrar crianças).
Na Grécia clássica, existia uma história sobre os riscos de ser-se mercador de escravos. Uma criança que fora castrada e vendida para a corte Persa tornou-se um poderoso funcionário. Ora um dia, foi-lhe apresentado um homem que cometera um delito contra a lei: era nem mais nem menos do que o homem que o comprara, castrara e vendera. Como castigo, o eunuco mandou-o castrar assim como a todos os seus filhos. A profissão de mercador de escravos era legal, mas de facto não era muito bem vista (e ainda pior castrar crianças).
Nauro Machado.:Sua obra já foi analisada com brilhantismo pelo também poeta e ensaísta Ricardo Leão, portanto minha intenção é repassar impressões pessoais sobre a poética de Nauro, muito mais ligadas ao efeito que sua poesia produz em mim do que a teorizações literárias.
A poesia, em Nauro, não surge como o fluxo de inspiração irradiado de um poder divino (theia dunamis). Antes, suas entranhas são seu oráculo. Impressiona-me o fato de que alguns poemas parecem surgir de uma auto vivissecção, como se Nauro dissecasse as suas emoções, seus questionamentos sobre a vida, o ser e a linguagem, traduzindo-os em versos plenos de angústia: “Pode alguém perceber alguma coisa/ do que a vida vai sendo, inconsciente?”
Assim, parece-me que a poesia de Nauro padece da angústia de renomear o homem e a vida na esperança, que já nasce frustrada, de recuperar algo que se perdeu sem nunca ter existido: “Por que, então, brado aos céus deste infortúnio,/estou passado no presente que une/o meu futuro ao em mim perdido e morto?”
É preciso ressaltar, ainda, a musicalidade de Nauro Machado, a propriedade de bailar que seus versos possuem. Os poemas desenham imagens à moda dos gestos precisos de uma bailarina. É tudo tão denso, e ao mesmo tempo tão impalpável, que o leitor mais distraído corre o risco de ser lançado ao desenlace do poema antes de captá-lo em sua inteireza, percebê-lo em sua autenticidade orgânica.
Justiça seja feita: Nauro Machado representa o que de melhor há na poesia brasileira contemporânea, como tão bem expressam os versos de A rocha e a rosca: “ Em ser outro já decido/o que me faz de nenhum:pisar a dor do resíduo/no elemento mais comum,/negando-me ao indivíduo/no povo completo em um.”
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Justiça Poética é quando, em uma história, o antagonista (as vezes protatgonista) faz, inicialmente, algo que por sua natureza é rejeitável pela sociedade. Acontece o desenrolar da história e por fim, a JUSTIÇA POÉTICA vem como a "vingança" daquele prejudicado, onde o que praticou o ato inicialmente tem contra si o ato praticado no fim...
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Ex: Na Grécia clássica, existia uma história sobre os riscos de ser-se mercador de escravos. Uma criança que fora castrada e vendida para a corte Persa tornou-se um poderoso funcionário. Ora um dia, foi-lhe apresentado um homem que cometera um delito contra a lei: era nem mais nem menos do que o homem que o comprara, castrara e vendera. Como castigo, o eunuco mandou-o castrar assim como a todos os seus filhos. A profissão de mercador de escravos era legal, mas de facto não era muito bem vista (e ainda pior castrar crianças).
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Na Grécia clássica, existia uma história sobre os riscos de ser-se mercador de escravos. Uma criança que fora castrada e vendida para a corte Persa tornou-se um poderoso funcionário. Ora um dia, foi-lhe apresentado um homem que cometera um delito contra a lei: era nem mais nem menos do que o homem que o comprara, castrara e vendera. Como castigo, o eunuco mandou-o castrar assim como a todos os seus filhos. A profissão de mercador de escravos era legal, mas de facto não era muito bem vista (e ainda pior castrar crianças).
Nauro Machado.:Sua obra já foi analisada com brilhantismo pelo também poeta e ensaísta Ricardo Leão, portanto minha intenção é repassar impressões pessoais sobre a poética de Nauro, muito mais ligadas ao efeito que sua poesia produz em mim do que a teorizações literárias.
A poesia, em Nauro, não surge como o fluxo de inspiração irradiado de um poder divino (theia dunamis). Antes, suas entranhas são seu oráculo. Impressiona-me o fato de que alguns poemas parecem surgir de uma auto vivissecção, como se Nauro dissecasse as suas emoções, seus questionamentos sobre a vida, o ser e a linguagem, traduzindo-os em versos plenos de angústia: “Pode alguém perceber alguma coisa/ do que a vida vai sendo, inconsciente?”
Assim, parece-me que a poesia de Nauro padece da angústia de renomear o homem e a vida na esperança, que já nasce frustrada, de recuperar algo que se perdeu sem nunca ter existido: “Por que, então, brado aos céus deste infortúnio,/estou passado no presente que une/o meu futuro ao em mim perdido e morto?”
É preciso ressaltar, ainda, a musicalidade de Nauro Machado, a propriedade de bailar que seus versos possuem. Os poemas desenham imagens à moda dos gestos precisos de uma bailarina. É tudo tão denso, e ao mesmo tempo tão impalpável, que o leitor mais distraído corre o risco de ser lançado ao desenlace do poema antes de captá-lo em sua inteireza, percebê-lo em sua autenticidade orgânica.
Justiça seja feita: Nauro Machado representa o que de melhor há na poesia brasileira contemporânea, como tão bem expressam os versos de A rocha e a rosca: “ Em ser outro já decido/o que me faz de nenhum:pisar a dor do resíduo/no elemento mais comum,/negando-me ao indivíduo/no povo completo em um.”